Carros também têm Caixa Preta (e sua importância na investigação dos acidentes)
Em casos de acidentes aéreos, as buscas pelas Caixas Pretas são sempre notícia, já que nelas estão gravados milhares de dados que podem mostrar como o avião vinha sendo pilotado e como se comportou momentos antes do acidente.
O que poucos sabem é que muitos carros já têm uma Caixa Preta, importantíssima na perícia de um acidente de trânsito.
Seu nome técnico é EDR (Event Data Recorder) ou Gravador de Dados de Eventos.
Os primeiros EDR apareceram em carros da GM fabricados nos EUA em 1994, mas só a partir de 2001 o acesso aos dados foi facilitado. Gradualmente outras marcas e modelos foram incorporando a tecnologia e em 2013 o país normatizou o assunto; em 2016, 99% dos carros vendidos naquele mercado vieram com EDR.
A Coréia do Sul (em 2015), a China (em 2022) e a Europa (em 2024) tornaram obrigatório o EDR. Japão também têm legislação sobre o assunto.
Até 5 segundos de informações antes do acidente são registradas. Em geral, temos: velocidade, rotação do motor, posição do acelerador, acionamento do pedal de freio, força do impacto, uso do cinto de segurança e se o airbag foi acionado.
Em carros mais novos, é comum que muitos outros dados estejam à disposição.
Como o EDR está intimamente ligado ao airbag, é no seu módulo de controle (ACM) que ficam armazenadas as informações.
Basicamente há dois tipos de EDR:
- Aquele que somente grava as informações do acidente quando o airbag é acionado.
- Aquele que grava as informações mesmo sem o acionamento do airbag: capotamento, choque lateral ou traseiro. Em alguns modelos, até no caso de uma freada muito violenta.
Sem EDR, é comum o perito técnico ter que medir as marcas da frenagem na pista para calcular a velocidade aproximada do veículo no momento do impacto.
Se houve vítimas, a perícia oficial é chamada e mede estas marcas. Se não houve vítimas, estas marcas raramente são medidas e uma prova técnica importante é perdida. Mesmo que seja medida, há muitas variáveis que levam a erros na estimativa da velocidade.
Em carros mais modernos, com ABS, as marcas deixadas no asfalto são muito pouco visíveis ou mesmo inexistentes.
Com o EDR há uma prova precisa e incontestável da velocidade no momento do acidente, independente se houve ou não frenagem.
Parece que só há vantagens em ter um carro com EDR. A seguradora pode negar a cobertura do sinistro, já que ficou registrado que o carro estava em excesso de velocidade. O advogado pode resolver uma causa, provando que o motorista vinha desatento ao trânsito, já que o EDR mostrou que o pedal de freio não foi acionado para evitar o acidente.
As montadoras estão usando o EDR para proteção contra clientes atrapalhados ou mal intencionados, garantindo que seus produtos não falharam conforme eventualmente alegado. Em um caso o cliente processava a montadora garantindo que o carro disparou sem ter sido acelerado (a chamada aceleração involuntária ou aceleração espontânea), causando um acidente na garagem. O EDR mostrou que o pedal do acelerador tinha sido pressionado; já o pedal do freio, em momento algum.
No mercado brasileiro há diversos carros que já contam com EDR: Jeep, Fiat, Toyota, Hyundai/Kia, Land Rover/Range Rover, Volvo, VW, Audi, Chevrolet, Subaru, Mitsubishi, Porsche, Chrysler, BYD, HAVAL, ORA, Zeekr etc.
Motocicletas Kawasaki também podem ter EDR.
E caminhões também podem ter um HVEDR (Heavy Vehicle Event Data Recorder). Diferentemente do carros, nos caminhões o EDR está localizado no Módulo de Injeção Diesel do motor.r
Um relatório de EDR pode ter mais de 50 páginas e as informações precisam ser interpretadas de acordo com outras informações do acidente.
Carros e caminhões também podem guardar informações de um acidente em um Módulo de Controle do freio ABS.